HERBERT DE JESUS SANTOS
( Brasil – Maranhão )
Herbert de Jesus Santos, jornalista (egresso do Curso de Comunicação Social da UFMA), poeta e prosador, é maranhense de São Luís, nascido na Madre de Deus, onde foi militante em movimentos socioculturais e começou sua lida pela preservação das preciosidades
folclóricas, como o secular Boi de Matraca da Madre de Deus.
Este interesse cresceu, como um dos fundadores da Associação dos Bumba-Bois da Ilha (ABMI), que gerenciou, em regime de comodato, o Parque do Folclore da Vila Palmeira, em 1995, quando, pesquisador, encontrou na Biblioteca Pública Benedito Leite, em jornais do séc. 19, e em outras fontes, alguns indícios da origem do Bumba-meu-boi no Maranhão. Também, compositor, é ligado a agremiações carnavalescas, quanto à Escola de Samba Turma do Quinto e à União das Escolas de Samba do Maranhão, das quais foi dirigente.
Possui prêmios jornalísticos e literários, numa carreira que começou, em 1983, com Uma Canção Para a Madre de Deus (poemas), seguida de Um Dedo de Prosa e Bazar São Luís: Artigos para Presente e Futuro, estes dois, de crônicas, vencedores em primeiro lugar, respectivamente, em Concurso do Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado-Sioge (1984) e da Secretaria de Estado da Cultura-Secma (1987).
Bibliografia: Uma Canção Para a Madre de Deus (poesia 1984); Um Dedo de Prosa (crônicas, 1986, premiado em concurso literário do Sioge) e Bazar São Luís: Artigos Para Presente e Futuro (crônicas, 1988, premiado em concurso literário da Secma e tema do samba-de-enredo da Escola de Samba Unidos de Fátima, no carnaval de 1989); Quase Todos da Pá Virada (contos, 1993); São Luís em PreAmar: Ainda Assim, há um Azul!, poesia, 2005); A Segunda Chance de Eurides (novela, 2007, premiada no Concurso Literário Cidade de São Luís, da Func); Serventia e os Outros da Patota (contos, 2008, Prêmio Literário Cidade de São Luís, da Func); Peru na Missa do Galo-Contos de Natal (2009); ensaio: Ofício de São Luís: Bernardo Coelho de Almeida, Coração em Verso e Prosa (Prêmio Literário Cidade de São Luís, 2009, da Func); Antes que Derramem a Lua Cheia (crônicas, 2010); e Um Terço de Memória, Entre Anjo da Guarda e Capela de Onça, e os Heróis do Boi de Ouro (A História de Fato e de Direito do Bairro Anjo da Guarda, 2011).
Inéditos: Brilhantes no Tempo de Cada Um (São Luís em Verso, Prosa e Quatrocentona); de crônicas: A Ilha em Estado Interessante, Mais Ouro do que Bronze, Sotaque da Ilha Grande, O Folclórico Pescador João Mia Gata e Seus Chegados em Ribamar; e As Vozes do Sobrado Maia (Por Dentro dos Apicuns, do ÁS Nego Lápis ao Genial Jornalista e Escritor Erasmo Dias); poesia: Hábito de Luz, Romanceiro de São Luís na Casa dos Quatrocentos, etc.; contos: Por Dentro dos Apicuns de Nego Lápis e Erasmo Dias, etc.;
Em andamento: Esses Breves Carnavais que Nunca Passam (crônicas); memória: Tudo Vale Atenas, se a Alma não é Pequena; romance O Amor de Negro Cosme e Áurea.
SANTOS, Herbert de Jesus. São Luís em PreAmar: ainda assim, há um azul!. São Luís, Lithograf, 2005.
Ex. bibl. de Antonio Miranda
A Cidade do Alto
Fotovista do meu aeroplano,
São Luís parece ser o seu maior poeta
e sabe ser grande na certa,
e não precisa mais levar cano.
A Cidade padece em linha reta,
é o poeta que mais sofre de verdade,
porque é ferida mais e maior,
que não fica só na saudade,
como a maior dos seus poetas.
Esta Cidade não se cala do
que se cala o poeta mais calado,
quando quer ser submisso
e nos faz ouvidos de mercador.
Não se rende e do
que é poeta rendido
e que só se rebela, ofendido,
quanto a Rainha da Inglaterra,
que reina, e não governa!
Se esta Cidade fosse só minha,
ninguém teria autoridade de esfarela
nem o mau agouro de uma asinha,
para olhá-la já nela,
e humor de erva daninha,
para chutá-la cá nela;
nem só pensava em cozinha,
para socá-la pá nela,
e nenhuma ordinária bonitinha
a atrairia à esparrela,
e neutralizaria os aventureiros,
na intenção de que o seu maior espírito cancela!
Luz à Cidade Partida
(Réquiem para Oswaldino Marques)
Quando Oswaldino Marques partiu
para assuntar mais de perto a outra dimensão,
a maior parte do Mundo não estava lá,
mas sentiu por boa parte do Mundo,
porque é a alma, não o corpo, que pressente tudo.
Mas aqui, em São Luís, Nem Seu Souza fala,
pois é a alma que está carregando o corpo,
e este tem a forma e o peso de uma cruz!
São Luís (a das constelações brilhantes,
pois não descosturavam as suas cabeças-pensantes)
também sumiu, no céu da pátria azul de anil,
porque está vencido, aqui, quase tudo o que era doce!
Esta, agora, nem sequer desconfia do tamanho das perdas
dela e do filho que (se) foram.
Sentirão Oswaldino Marques as traduções fiéis
de maiores cocos do Universo;
o soneto a voz concerto de um orfeão;
a palavra a construção a prumo,
como um edifício plantado definitivamente;
o respeito do mestre literato
à altura do sonho brasileiro¸
quanto se fossem a Luz e o Direito,
A Bailarina e o Horizonte –
um dos seus maiores livros.
Ah São Luís das pedras nos profetas e rasteiras,
da mortal cicuta aos teus sábios,
era para aliviar os ombros dos teus cristos,
mas, por falta de fortuna altaneira,
estão costurando a maior cruz nos teus bons filhos!
Réquiem para o que foi te fazer maior —
na predisposição para a Cultura—
em erudição e verbo para o Sol,
nesta e em outras bandeiras,
todas hasteadas no mesmo pau de arrebol,
e pôs na poesia nações inteiras!
Espinho e ouros cabem na mesma fronte,
mas parece que, aqui, mais vale a pena capital.
São Luís, Mãe, teu filho Oswaldino Marques
acabou dormindo! Agora mesmo é que sonha
mais longe com o campo da sintaxe e do real!
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Oswaldino Marques, poeta, ensaísta, tradutor, crítico literário, catedrático de
Literatura em universidades brasileiras e americanas, nasceu em São Luís(MA), a
17.10.1916, e faleceuem Brasília (DF), a 13.5. 2003.
Os Tambores de São Luís
(Ao romancista conterrâneo Josué Montello)
Herbert de Jesus Santos
Conheço de cor e salteado, e em pilha,
os tambores que me estão à flor da pele.
São o meu sangue nas veias
e rufam e crioulam os séculos da Ilha
e são¸ às vezes, a minha própria telha.
Ganhei-os de presente do negro africano,
meu ancestral, que no futuro impôs
meu pulsar da Liberdade e falas,
e as pelejas que o bumba-meu-boi tem,
e que se firmaram nas senzalas
contra a pequenez das casas-grandes,
até se transformarem num meu bem!
Esses tambores, que batucam muito,
às vezes, de acordo com o meu coração,
dizem o que o peito da Cidade sente, no fundo,
e pressentem sua grande meta — a continuação.
Encontram-se de bom tamanho,
também, nas gumas reverentes
da Casa das Minas e da Casa de Nagô,
aos guias da raça da nossa gente,
que ajudou com sangue a formação do andor
do Povo e da Cultura Maranhense.
Aguçam, em rebuliço, minha herança,
na válvula de escape, igualmente,
dos blocos e escolas de samba,
na raiz do som nacional,
que desfilam em cores fantasias,
transpiram tema ou enredo tal,
porque botamos o coração na frente,
enquanto bem festeja e encanta a poesia!
De longe, eles avisam ao navegante, aqui,
cara de tambor que amanhece amor,
e que tambor pequeno quando fala, aí,
é por que o grande já falou!
Coisa de relógio e de irmão:
Me tocam muito fundo
e São Luís do Maranhão!
O Roubo da Missa do Galo
(Ao poeta Nascimento Morais Filho,
nos seus 80 anos de vida, em 15.7.2002)
Notícia ruim vem a cavalo,
resume a sapiência popular.
Mas, aqui, o exigiram até matá-lo
que seu galope, agora, vem ao celular!
Façanha das trevas é perigosa,
quando o Bem se verga para o Mal,
e há, aqui, uma tão capciosa,
que passou despercebida do jornal.
Roubaram a Missa do Galo,
que era, normalmente, à meia-noite,
e ainda puderam esganá-lo
com a violência de um açoite.
O papa — no rico Vaticano,
o bispo, no pobre Maranhão:
O papa culpa o consumismo;
o bispo fala em precaução.
Mas roubaram a Missa do Galo
e o nosso canto e o esporão!
Quem roubou a Missa do Galo,
também roubou do maranhense a valentia
e o nosso costume de amá-lo,
cantando, no terreiro, a honraria.
Quem roubou a Missa do Galo,
ameaça a vida e a melhoria
coletiva e fortalece o badalo
dos podres de rico e picardia.
Quem roubou a Missa do Galo,
corrompe o alimento e a moradia
da esperança, onde o melhor halo
prefere a precisa companhia.
Quem roubou a Missa do Galo,
não conhece a certeza de um bom-dia
e deixa a boa-fé morta num talo,
e de malefício contagia.
Conformação, aqui, é um estalo
de cócoras, em terra de jia,
e mesmo na questão Missa do Galo,
que tem na meia-noite a liturgia.
Quem procede assim usa os erros,
num torrão outrora venerado,
por leis, justiça e governos,
que favorecem mais a vida do errado!
Então, vivemos mais em terra arrasada,
muito pior do que a de outrora,
e sabem que a Cruz está mais pesada
que já nascem Jesus antes da hora!
Todo preço é muito alto para um calo,
e estrangularam A Voz do Maranhão.
Se roubaram até a Missa do Galo,
queixa ao bispo já é força de expressão!
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Página publicada em março de 2023
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